A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) anunciou na última sexta-feira (11/04), a inserção do arquivo Carlos Chagas no Registro Internacional do Programa Memória do Mundo. O anúncio, que reconhece o valor histórico e científico do acervo do médico e sanitarista brasileiro, ocorre próximo ao Dia Mundial da Doença de Chagas, celebrado hoje (14/04). A descoberta do ciclo completo da doença, em 1909, deveu-se à pesquisa conduzida pelo cientista.
Desde 2008, o conjunto que documenta a trajetória profissional e pública de Chagas, faz parte do Programa Memória do Mundo, em nível nacional e regional, este último relacionado à América Latina e Caribe. Agora, o arquivo passa a compor o distinto grupo de 11 documentos ou fundos brasileiros com a chancela do Registro Internacional da Unesco. Feito bastante simbólico, diante da atual relevância global da Doença de Chagas como problema de saúde pública.
Sob a guarda da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio da Casa de Oswaldo Cruz, o arquivo, disponível na Base Arch, reúne centenas de documentos que atravessam não apenas a trajetória do cientista, mas também a história da saúde pública no Brasil, e os primeiros esforços de institucionalização da ciência no país. São correspondências, manuscritos de artigos científicos, relatórios de expedições médicas, registros fotográficos e materiais administrativos produzidos ao longo de sua atuação no Instituto Oswaldo Cruz e no Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), entre outras atuações.
Para Aline Lacerda, assessora da Vice-Diretoria de Patrimônio Cultural e Divulgação Científica da Casa de Oswaldo Cruz, e organizadora do dossiê de candidatura, um dos maiores riscos a que um acervo está exposto é a invisibilidade. A historiadora explica que as chancelas em âmbito nacional, regional e, agora, internacional, a que o fundo Carlos Chagas faz jus, contribuem em última instância para a sua preservação: “Esse reconhecimento aciona contrapartidas, que promovem mais visibilidade e, consequentemente, mais recursos para a sua salvaguarda”.
Aline também avalia o impacto desse registro para a Casa de Oswaldo Cruz e para a Fiocruz: “[A chancela] valoriza também o trabalho de uma instituição, que tem sob sua guarda diversos conjuntos do seu acervo cultural reconhecidos como valiosos para a humanidade.
Nesse cenário, a Fiocruz, por meio da Casa de Oswaldo Cruz, cumpre um papel estratégico como guardiã de mais um patrimônio documental. A instituição, que já se destaca pela excelência em pesquisa científica e pela atuação em saúde pública, fortalece, com esse reconhecimento internacional, sua dimensão cultural e educativa. Ao investir na preservação, digitalização, difusão e acesso público aos seus acervos, a Fiocruz reafirma seu compromisso com o conhecimento, com a democracia e com o direito à memória.
Sobre o Registro Internacional do Programa Memória do Mundo
Criado em 1992, o Programa Memória do Mundo da Unesco visa preservar o patrimônio documental da humanidade, promovendo sua proteção contra o esquecimento, a deterioração e a destruição. É uma instância legitimadora, que reconhece e garante valor a acervos, acionando, nesse processo, várias categorias de especialistas para análise das candidaturas.
O registro internacional é limitado e altamente seletivo e os arquivos nele inscritos são considerados patrimônio documental mundial. É um nível superior de reconhecimento, concedido a acervos que têm valor universal excepcional, ou seja, sua relevância extrapola fronteiras nacionais e diz respeito à memória coletiva da humanidade.
Mais do que um selo de prestígio, a inclusão do arquivo de Carlos Chagas no Registro Internacional da Unesco representa um chamado à sociedade brasileira: é preciso reconhecer o valor da ciência não apenas no laboratório, mas também na história. Valorizar sua memória é, também, uma forma de projetar um futuro com mais saúde, justiça e cidadania.