Projeto é um laboratório vivo desenvolvido na Universidade do Oregon
Para Shawn Rowe, os museus precisam achar maneiras para enfocar suas pesquisas. “Mais não é sempre mais”. Foto: Roberto Jesus Oscar |
Linguista e psicólogo por formação, o americano Shawn Rowe é diretor de educação no Centro de Visitantes do Oregon Sea Grant, que usa comoum laboratório no Hatfield Marine Center Science (o Centro Hatfield de Ciência Marinha, em tradução livre), na Universidade de Oregon, nos Estados Unidos. Ele participou do seminário “Divulgação científica e museus de ciência: O olhar do visitante”, realizado na Fiocruz entre os dias 16 e 17 de setembro, no qual expôs o projeto inovador Cyberlab, conduzido com a bióloga marinha e pesquisadora Susan O´Brien. O Cyberlab é uma iniciativa que utiliza 35 câmeras em diferentes áreas para acompanhar, em tempo real, a reação do público entre uma exposição e outra. Isso ajuda a coletar os dados e torna a colaboração do visitante mais efetiva, explica O´Brien. A pesquisa é desenvolvida há mais de dois anos acumulando informações sobre quais equipamentos foram mais utilizados, a trajetória seguida pelo visitante e o tempo que gastou em cada exposição, entre outras.
O seminário foi resultado da parceria da RedPOP (Rede de Popularização da Ciência e Tecnologia da América Latina e Caribe) com o Museu da Vida, e contou com apoio da Unesco, do CNPq e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Na opinião de Rowe, os museus precisam achar maneiras para enfocar suas pesquisas. “Mais não é sempre mais”, afirma. É preciso saber o que fazer com os dados coletados, uma questão que deve “ser enfrentada”, diz. No trabalho, a dupla estuda a reação do público, buscando entender como as atividades causam impacto na aprendizagem do espectador. Para isso, o projeto conta com aplicação de tecnologia de ponta para o desenvolvimento de instalações e processos novos visando contribuir para a melhoria da educação científica.
Nesse laboratório trabalha uma equipe de estudiosos, cientistas, estudantes de graduação e voluntários treinados. Eles realizam programas de pesquisa, educação e desenvolvimento profissional, além de criar exposições inovadoras que interpretam a ciência marinha e o oceano para visitantes de todas as idades.
Sobre a questão ética envolvida, Susan O´Brien adianta-se: “as imagens são para pesquisa”. As informações podem não ser usadas, em caso de recusa do participante. O trabalho adota ainda o controle de rostos, de modo a checar a identidade do visitante, atestando a confiabilidade do sistema, acrescenta a pesquisadora.
De acordo com o coordenador do projeto, há casos em que os visitantes não aceitam ser filmados. Mas a maioria concorda em participar, tornando-se um “copesquisador”, explica Shawn Rowe. Os dados ficam à disposição dos próprios visitantes, e de estudiosos interessados.
Com público composto em sua maioria por famílias, o Centro de Visitantes recebe 150 mil pessoas por ano. Cerca de 45% retornam ao laboratório depois da primeira experiência, afirma Rowe.
A assistente de pesquisa no Centro de Visitantes levanta questões relevantes sobre o público. Como engajar as pessoas? Como acessar os recursos dos museus, tornando-os de uso social? Como estudar as atividades sociais em museus, sem alterar a percepção das pessoas? Susan O´Brien também acha importante mais estudos sobre a mediação, especialmente no Brasil. Por que as pessoas não vêm aos museus?
Susan O’Brien (ao lado de Shawn Rowe) apontou necessidade de estudar as pessoas que não vão a museus. |
“Nos Estados Unidos, famílias inteiras vão aos museus”, diz a pesquisadora. No Brasil, por outro lado, “a questão ainda está sendo levantada”, acrescenta. Em sua avaliação, temas novos devem ser trazidos e explorados. “É preciso estudos sobre as pessoas que não visitam museus, e como atraí-las”, opina Susan. Questões relativas à acessibilidade e inclusão social como projeto pedagógico também devem ser levadas em conta, bem como sobre os grupos de famílias que visitam os museus.
Iniciativa recebeu U$ 2,6 milhões
Em seu oitavo ano, o programa de livre aprendizagem do Oregon Sea Grant recebeu 2,6 milhões de dólares do National Science Foundation (NSF) dos Estados Unidos. O dinheiro é destinado ao uso das tecnologias emergentes em ambiente de museu, no contexto de aprendizagem relacionado a métodos para promover o CyberLearning, criado pela National Education Foundation (NEF), que usa tecnologias de computação e comunicação ligadas em rede para apoio à aprendizagem. Estas tecnologias permitem a coleta contínua de dados e a participação ativa dos alunos.
Hatfield Marine Center Science – Origem
O HMSC foi originalmente criado como um laboratório marinho para a universidade do Oregon. Atualmente, desenvolve programas de pesquisa e ensino colaborativos de sete faculdades da OSU e seis órgãos estaduais e federais, ocupando área de 50 campos de futebol. Ao longo de cinco décadas a instituição evoluiu para um laboratório marinho, distinguindo-se pelas parcerias de investigação colaborativas. O campus litorâneo serve de base para pesquisas oceanográficas, atendendo aos estudantes e oferecendo instrução experimental, programas de estágios de verão programas acadêmicos para graduandos e pós-doutorado.