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Digitalização de acervos precisa reduzir sua ‘pegada de carbono’, diz especialista

26 set/2019

Que impacto a digitalização de coleções e a preservação digital de acervos têm sobre o meio ambiente? Esse trabalho, de acordo com o especialista em conservação fotográfica Millard Schisler, da Universidade Johns Hopkins (EUA), deixa uma pegada de carbono – medida da quantidade de dióxido de carbono emitida como resultado de uma atividade – que precisa ser levada em consideração. “Isso requer não só dinheiro, mas energia”, afirmou, elencando a redução desse impacto como um dos desafios para a área de preservação de acervos diante de um cenário de mudanças climáticas.

Schisler participou nesta terça-feira (24/9) da mesa ‘Digitalização e Preservação Digital’ durante a Conferência de 30º Aniversário da APOYOnline, no Rio de Janeiro. Durante sua apresentação, ele apresentou um gráfico com a escala de cores da Berkeley Earth Data Sets mostrando o aumento da temperatura global no período de 1850 a 2018. Promovido pela primeira vez no Brasil, o evento é uma realização conjunta da APOYOnline, da Fundação Oswaldo Cruz e da Fundação Casa de Rui Barbosa.

Quando se trata da digitalização de acervos, Shisler argumenta que, embora seja importante perseguir padrões elevados de qualidade, é preciso estar atento às limitações relacionadas à estrutura disponível e levar em consideração o uso que será dado às imagens digitalizadas. “Nem tudo é feito no mesmo padrão de qualidade. [Isso] depende do tipo de material”, explicou. Segundo ele, já há hoje no mercado aplicativos de celular que permitem digitalizar itens com “qualidade razoável”. Por outro lado, equipamentos especiais usam câmeras com capacidade muito mais elevado, podendo ultrapassar os 150 Megapixels.

Mais caros, esses sistemas mais avançados podem geram imagens de altíssima resolução, que resultam em arquivos digitais maiores. Lidar com o armazenamento do elevado volume de dados gerado é, na avaliação de Shisler um desafio. "A partir do momento em que tenho arquivos 10 ou 20 vezes maiores, tenho que pensar em cópias e backups, em manutenção e gerenciamento”, disse.

Ao destacar a importância da digitalização como forma de preservação de conteúdos para a posteridade, o pesquisador lembrou que o Brasil possui muito material em microfilme em estado de degradação. “Às vezes, a digitalização é a única forma de garantir a longevidade do conteúdo daquele material”, alertou.

Professor do Instituto de Tecnologia de Rochester, em Nova York, durante 10 anos (1996-2006), Schisler afirmou que “a digitalização não está substituindo a preservação em todos os seus sentidos”, referindo-se aos aspectos de guarda, climatização, ar, temperatura e assim por diante. Neste caso, “a digitalização tem um significado bem diferente”, informou o pesquisador. Ele revelou ainda que “gostaria de fazer a melhor digitalização possível para poder capturar o que vai virar outro original”, observou.

“Público quer experiência de realidade aumentada”

Durante a Conferência, Millard Schisler falou de novidades no campo dos meios digitais. “Há um universo muito interessante acontecendo”, disse citando a digitalização em 3D, entre outros. “Muitos museus estão se vendo presos em seguir isso [o uso de novas tecnologias], porque o público quer essa experiência de realidade aumentada, de realidade virtual”, declarou. “Essas experiências têm impacto, mas são processos caros e difíceis de fazer, com arquivos enormes e complexos de preservar”, concluiu.