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Livro propõe metodologia de trabalho inédita para a conservação de edifícios históricos

18 maio/2010

O livro Metodologia e tecnologia na área de manutenção e conservação de bens edificados: o caso do Núcleo Arquitetônico de Manguinhos, de Marcos Pinheiro, Bettina de Lourenço, Márcia Franqueira, Cristina Coelho e Débora Lopes – profissionais do Departamento de Patrimônio Histórico da Casa de Oswaldo Cruz – propõe uma metodologia para a conservação de patrimônios arquitetônicos baseada no conceito de conservação preventiva, que, nas palavras de Marcos Pinheiro, pressupõe a “intervenção na medida certa”.

Fruto da experiência de profissionais dos mais diversos perfis – arquitetos, engenheiros, entre outros -, assim como de consultores externos que passaram pela COC, essa proposta pretende abrir a discussão em um campo que carece de parâmetros.

Confira entrevista com Marcos Pinheiro, coordenador geral do livro e vice-diretor de informação e patrimônio cultural da Casa de Oswaldo Cruz:

Portal COC: Como e quando surgiu a idéia para a criação do livro?

Marcos:Eu venho da área da engenharia, essa é minha formação. Quando passei a atuar na preservação do patrimônio cultural, senti a necessidade de superar a subjetividade desta área, que carece de parâmetros, e por isso pensei na criação de uma metodologia que pudesse orientar o trabalho. É também uma área com mão de obra de pouca qualificação, e que está preocupada mais com a prática, e não tanto com a reflexão.

Então, há sete anos, quando a COC lançou um edital de pesquisa interna, vi a possibilidade de propor uma metodologia. Para isso incorporamos profissionais que agregaram com novos campos, como o da restauração, e saberes mais atualizados na área, com a Bettina (Lourenço), com a Cristina (Coelho), a Márcia (Franqueira) e a Débora (Lopes). Sua publicação se tornou então uma realidade com a obtenção de recursos da Faperj.

Portal COC: O livro é bem didático, dividido por tipos de materiais, com tabelas de acompanhamento do trabalho de conservação ao final de cada capítulo etc. Fica claro que esse trabalho exigiu um cuidado prévio para a documentação destes materiais e etapas. Qual a intenção ao lançar esse livro? Que público pretendem alcançar?

Marcos: Pensamos em dois públicos, basicamente. O primeiro é o interno. O segundo público é o externo, pois queremos contribuir com a área de preservação do patrimônio construído. Como eu disse, essa é uma área que carece de bibliografia adequada a nossa realidade.
Dizemos que o trabalho teve três fases. O início foi a elaboração e desenvolvimento do projeto. A segunda é a fase presente, de lançamento. E a terceira é a partir de agora, colocar a metodologia que propomos à prova, aplicá-la na Fiocruz. O livro é todo pensado para a prática. Até mesmo o formato foi pensado para que o profissional possa levar o livro para o campo. O primeiro lugar em que aplicaremos essa metodologia é o Palácio Itaboraí. A partir daí poderemos avaliar o processo e qualificar nossos profissionais.

cercados por estantes de livros, autores sentados em uma mesa autografam o livroPortal COC: E a metodologia, como foi criada?

Marcos: Foi criada por nós, autores, com critérios nossos. Claro que já existem alguns critérios dados internacionalmente, e nós os seguimos. A metodologia é fruto da experiência de nossos técnicos e de consultores externos. Trabalhamos com a concepção de que quanto menor for a intervenção, melhor. É preciso verificar qual a medida certa e só intervir o necessário.

Portal COC: Existem outras obras semelhantes, no Brasil ou em outros países?

Marcos: Existe muita bibliografia, mas é mais para restauração, na área de construção civil também, e pouco em conservação do patrimônio cultural. Podemos dizer que é uma contribuição para a área, inovadora como um todo, ao menos nesta dimensão, pensando de forma integrada, agregando diversas áreas do saber, e com o foco na conservação preventiva.

Autores autografam livro no lançamento.

Portal COC: Existe alguma estratégia para divulgação do livro?

Marcos: Sim, claro, afinal a preservação implica em divulgação, em promoção da educação patrimonial. Apresentamos um painel sobre o livro no congresso sobre manutenção e engenharia (III Congresso Internacional na Recuperação, Manutenção e Restauração de Edifícios). O livro foi vendido no congresso, na internet, pelo site da editora e em algumas livrarias. Mas o grande divulgador mesmo será a continuidade do trabalho, pois ele desencadeia uma série de coisas, e a principal é esse novo método de trabalho.

Portal COC: A metodologia proposta no livro já foi aplicada?

Marcos: Em sua totalidade, não. Apenas em casos pontuais.

Portal COC: A Casa de Oswaldo Cruz tem incorporado o conceito de conservação preventiva – foi realizado um curso de conservação preventiva de acervos, e agora este livro. No prefácio, Carlos Andrade (Iphan) fala de ‘medicina preventiva’. Você poderia falar um pouco sobre o conceito e sua importância, dentro da COC?

 

Marcos: A conservação preventiva é um conceito caro à Casa de Oswaldo Cruz. A COC coopera com outras instituições nessa área, e nossa idéia é atingir a Fiocruz como um todo.
A área de manutenção e conservação costuma trabalhar mais no corretivo. Nossa idéia é que se atue mais no preventivo, justamente para fugir da conservação corretiva. É claro que há casos em que é necessária a correção, um tipo de conservação não elimina a outra, mas é preciso corrigir na dosagem correta.

Portal COC: A COC tem investido na formação de pessoal nesta área, com o Curso de Preservação e Gestão do Patrimônio cultural, e agora o livro… Qual a importância deste livro, neste sentido? Vai ser usado na formação de pessoal deste curso?

Marcos: Sim, essa experiência será aplicada no campo do ensino na COC, no curso de especialização em gestão do patrimônio cultural. O curso terá um módulo sobre patrimônio arquitetônico.

Portal COC: O livro deve se tornar uma referência não só para a preservação, manutenção e recuperação do patrimônio arquitetônico nas ciências biomédicas como também em outras áreas. A organização se preocupou em algum momento com outros públicos?

Marcos: A idéia é que a metodologia possa ser aplicada em todas as edificações históricas, que ela sirva para o patrimônio edificado como um todo, dentro do universo dos materiais que trabalhamos e temos experiência aqui na Fiocruz. Além disso, o livro abre um campo de discussão para os profissionais da área, que estão muito envolvidos com a prática. Não se pensa muito em processos ou em uma metodologia. Nossa apresentação em um congresso de engenharia mostra a ampliação da discussão por diversas áreas.
Preocupamos-nos também com a educação patrimonial. Preservar pressupõe registrar e divulgar o que foi feito, e nós faremos isso constantemente no portal da Casa de Oswaldo Cruz, divulgando as etapas do trabalho que se inicia com a aplicação da metodologia. A dificuldade é sempre a de explicitar um saber tácito. Queremos transmitir, capacitar, divulgar e conscientizar também os usuários. Não basta que os profissionais se preocupem com isso, mas também que os usuários deste patrimônio edificado se comprometam. O livro e as ações de educação patrimonial ajudam nisso.

Portal COC: E quais são os próximos passos?

Marcos: Teremos a divulgação e a avaliação interna, com a aplicação da metodologia no Palácio Itaboraí, e também ampliaremos o diálogo com nossos pares. E agora surge a avaliação externa, a repercussão do trabalho. Estamos tranquilos quanto a isso, esse é mesmo um trabalho para ser debatido. O livro fala de processos que evoluem constantemente, que não estão cristalizados.

Portal COC: Ao longo do tempo, vários prédios foram sendo incorporados ao Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos (Nahm). Há vários prédios espalhados, por exemplo, em Jacarepaguá (Fiocruz Mata Atlântica / Colônia Juliano Moreira), Petrópolis (Palácio Itaboraí), de 1892, repassado à Fiocruz pelo Governo do Estado. Diria que é um desafio resguardar esse novo patrimônio?

Marcos: É um desafio, sim, que não se pode fugir. Faz parte de nossa missão preservar. Não só os bens já tombados, mas também os que não são, identificando outros que devem ser conservados. Por exemplo, o Pavilhão Nossa Senhora dos Remédios, no campus Fiocruz Mata Atlântica. Quando chegamos para atuar neste campus, esse pavilhão estava ocupado, e após a remoção a opção inicial era a demolição. Mas foi feito um levantamento histórico e descobrimos que aquele era um espaço que alienava ainda mais os já alienados, pois servia de isolamento para doentes mentais com tuberculose. Ou seja, é um espaço relevante para a história da saúde pública.

(entrevista concedida em 7 de maio de 2010)

SERVIÇO:

Metodologia e tecnologia na área de manutenção e conservação de bens edificados
O caso do Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos

De Marcos Pinheiro, Bettina de Lourenço, Marcia Franqueira, Cristina Coelho e Débora Lopes
148 páginas
ISBN 978-85-8523-956-5
1° edição, 2009.
Editora: E-Papers
Como comprar: no site da E-Papers