Reconhecida internacionalmente como um dos mais relevantes periódicos da área, a revista História, Ciência, Saúde – Manguinhos (HCSM), publicação científica da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), completou 25 anos de edições ininterruptas. Para marcar a data, especialistas de instituições do Brasil e do exterior estiveram reunidos entre os dias 26 e 28 de junho no workshop Presente e Futuro das Publicações de História: Debates por Ocasião dos 25 Anos de História, Ciências, Saúde – Manguinhos.
Durante o encontro, foram discutidas questões sobre acesso aberto, ciência aberta, mídias sociais e pré-print. “Atualmente, História, Ciência, Saúde – Manguinhos é uma referência contemporânea essencial para este processo que revela evidências, retraduz e projeta questões em uma área que tem sofrido constantes ataques por resgatar questões sobre memória e história”, destacou Paulo Gadelha, fundador da publicação.
Classificada com o mais elevado nível de qualidade – A1 – em História no Qualis, sistema utilizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para avaliar periódicos científicos e cursos de pós-graduação e periódicos científicos, a publicação é editada em versão impressa e eletrônica e está disponível gratuitamente no portal SciELO. “Ao longo destes anos, História, Ciência, saúde – Manguinhos se firmou como um os mais importantes periódicos da área, sendo inovadora em parcerias relevantes, como com o SciELO, pioneira no uso de mídias sociais e em iniciativas de internacionalização, pensando o campo da história e das humanidades de uma forma mais ampla”, ressaltou a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.
Pesquisador e historiador da COC, Jaime Benchimol, destacou o apoio institucional e financeiro da Fiocruz para que a revista atingisse os padrões de destaque reconhecidos pela Qualis. “A Fiocruz deu à revista uma condição privilegiada em comparação a outras publicações de ciências humanas, não somente pelo aporte de recursos e logística, mas por ser uma instituição riquíssima em áreas disciplinares diversas que [a revista História, Ciências, Saúde] Manguinhos entrelaça e historiciza”, disse Benchimol, que atuou como editor científico até 2015.
Direcionada para a interação entre as múltiplas formas de conhecimento, a revista também é avaliada com conceito A1 nas áreas de Educação, Sociologia, Ciências Ambientais e Interdisciplinar. “Manguinhos dialoga com temáticas que vão além da memória, incluindo patrimônio cultural e divulgação científica. Ao mesmo tempo, passou por um processo de modernização, interagindo, discutindo, debatendo, sob um olhar crítico, as mudanças nos sistemas de comunicação científica, os impactos da internet e das novas plataformas digitais”, afirmou Paulo Elian, diretor da COC.
Como perspectiva para o futuro, Marcus Cueto, editor científico da revista, afirmou que o desafio da publicação é atuar para ajudar na implementação da ciência aberta. “Este é um momento brasileiro e mundial que está mudando a comunicação científica, democratizando o acesso ao saber, ao processo e a pesquisa nos ambientes digitais. Nosso objetivo é discutir com os editores e profissionais as suas experiências nas politicas editoriais, na avaliação de manuscritos, com a ciência aberta e os desafios para implementar plenamente a ciência aberta na área de ciências humanas”, disse Cueto, que também é pesquisador da COC.
Ciência aberta e democratização do conhecimento científico
“A área de ciências humanas tende a assumir um posicionamento conservador nas propostas de ciência aberta da SciELO. No entanto, este é um elemento extremamente enriquecedor, em termo de desenvolvimento da pesquisa no Brasil, uma vez que proporciona o aperfeiçoamento das publicações”, defendeu Abel Packer, diretor do Programa SciELO/Fapesp, durante a palestra A emergência da Ciência Aberta e as Funções dos Periódicos na Comunicação da Pesquisa, realizada em 26 de junho.
Na ocasião, Abel Packer, explicou que o pré-print – primeira instância do processo de abertura de dados na ciência aberta – tem um caráter revolucionário ao viabilizar a divulgação rápida de resultados de pesquisas. “O pré-print é a desintermediação no processo da comunicação científica. Vamos supor que o resultado de uma pesquisa seja extremamente importante para a humanidade, para a tomada de decisões políticas, de saúde pública ou para a educação, por exemplo. Quando retardamos a comunicação desse achado, adiamos a tomada de decisão. Então, o pré-print tem esse efeito revolucionário”, disse.
Segundo Packer, a gestão dos dados de pesquisa, caracterizada pelo compartilhamento das informações utilizadas e visando a reprodutibilidade do estudo, além da avaliação dos dados, com a abertura da identidade dos autores e pareceristas da publicação, enriquecerão o processo da produção científica. “A primeira reação do editor é que o pré-print significa um risco, no entanto, a expectativa do SciELO é que, com o pré-print e a abertura de dados, tenhamos um melhoramento na qualidade dos manuscritos”, comentou.
Packer descreveu ainda quais são os tipos de dados científicos em artigos de história e ciências humanas. “Neste caso, o dado é tudo aquilo que está subjacente à argumentação e que deverá estar disponível ao público, ou seja, é a fonte, a imagem, os estudos utilizados para a produção da pesquisa, todas as informações que ajudaram a embasar o estudo produzido e os resultados alcançados”, concluiu.
A vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado; a jornalista Ruth Martins, que atuou como primeira editora-executiva da Revista; a atual editora-executiva da HCSM, Roberta Cardoso Cerqueira; e André Felipe Cândito, atual editor científico da publicação, também participaram do primeiro dia do workshop.