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Nova edição de HCS-Manguinhos está disponível no Scielo

28 jan/2015

Marcada pela diversidade temática, a nova edição de História, Ciências, Saúde – Manguinhos está disponível integralmente para consulta no portal Scielo. O artigo que abre este número revisita o pensamento social brasileiro das décadas de 1920 e 1930 para analisar o discurso do excesso sexual como marca da brasilidade. Os 18 textos abordam questões que vão dos 50 anos do livro Boys in White, obra clássica da pesquisa qualitativa em sociologia, às contestações feitas pela chamada medicina do envelhecimento à geriatria e à gerontologia, passando por uma discussão sobre o lugar da educação física no Brasil monárquico.

Leia mais:
SciELO – HCS-Manguinhos. Vol. 21, nº 4
Blog da revista HCS-Manguinhos
Oceanos e mares são tema de nova edição de HCS-Manguinhos

Em seu artigo, Cristiane Oliveira, do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia, aponta que, ao debruçar-se sobre o tema do excesso sexual, o pensamento sociológico brasileiro da primeira metade do século 20 tratou-o ora como um elemento perturbador do projeto civilizatório nacional, ora como um traço que foi positivado por ter sido a condição que possibilitou a hibridização cultural como parte constitutiva da nação brasileira.

No trabalho Medicina antienvelhecimento: notas sobre uma controvérsia sociotécnica, o psicólogo Antônio Nogueira Leitão e a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro discutem os questionamentos feitos pelos adeptos dessa prática médica à geriatria e à gerontologia. Com pouco mais de 20 anos de existência, a medicina do envelhecimento busca desacelerar o envelhecimento por meio da realização de atividades físicas e de dietas específicas, da administração emocional e do estresse e, principalmente, da modulação hormonal.

Outro trabalho examina como os geneticistas contemporâneos que estudam a configuração da sociedade brasileira – incluindo questões como escravidão e identidade étnica – interagem com outras disciplinas, como a história. Este número inclui também um texto sobre as estratégias de controle existentes no trabalho em uma mina de ouro em Minas Gerais, bem como as doenças aos quais os trabalhadores eram acometidos e as mudanças resultantes da implementação da legislação trabalhista no governo Vargas.

Professores da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Everaldo Duarte Nunes e Nelson Filice de Barros dedicam seu artigo ao livro Boys in White: student culture in medical school, um trabalho etnográfico sobre a formação de médicos na Universidade de Kansas (EUA). O texto traz uma análise da trajetória da obra, dos autores – Howard S. Becker, Blanche Geer, Everett C. Hughes e Anselm Strauss – da pesquisa qualitativa e dos estudantes de medicina, ressaltando a importância do livro nas origens da sociologia médica e da sociologia da educação médica.

Esta edição reúne ainda artigos que abordam questões como os posicionamentos governamentais sobre a educação física no Brasil monárquico; os hospitais universitários federais e suas missões institucionais no passado e no presente; a dinâmica da produção de conhecimento no Ambulatório de Menopausa da Unicamp; a autoproclamada escola boveriana no contexto do desenvolvimento da disciplina anatômica em São Paulo e no Brasil; e o papel da Chefatura de Polícia nos processos de internação em um hospital do Espírito Santo na segunda metade do século 20.

Ancilostomíase: doença é abordada em artigo e em texto da seção Fontes

Entre os temas abordados também estão a socialização da medicina durante o governo estadual de Adhemar de Barros em São Paulo (1947-1951); a atuação do antropólogo Charles Wagley no Serviço Especial de Saúde Pública, programa de cooperação entre Estados Unidos e Brasil na Segunda Guerra Mundial; o Instituto de Radium de Minas Gerais e sua atuação de vanguarda em radioterapia no Brasil; e as implicações da campanha da erradicação da ancilostomíase empreendida pela Fundação Rockfeller no Suriname em 1915.

HCS-Manguinhos traz também um estudo do conceito de “obsessão” no alienismo do século 20; uma análise dos vetores social e institucional envolvidos na criação da cidade-estância de Campos do Jordão a partir da produção e da trajetória do médico geógrafo e empreendedor Domingos Jaguaribe; apontamentos sobre a Cadeia do Ser e o lugar dos negros na filosofia natural na Europa setecentistas; além de uma investigação sobre o estatuto e as condições de emergência da categoria de síndrome do coração irritável, presente nos discursos médicos anglo-americanos na segunda metade do século 19.

Na seção Depoimento, HCS-Manguinhos publica uma entrevista com o terapeuta indígena e biomédico Walter Álvarez Quispe. Ele fala sobre a luta dos terapeutas tradicionais e alternativos em favor da despenalização desses sistemas médicos andinos entre 1960 e 1990.  Já a seção Fontes apresenta o diário de Alan Gregg, um dos médicos norte-americanos que trabalharam no Brasil entre 1919 e 1922 no contexto do combate à ancilostomíase, uma endemia rural.

Em sua carta, o editor científico da revista Marcos Cueto lança um olhar histórico sobre o recente surto de ebola na África. Além de apontar o pânico causado pelo registro de casos da doença em grandes centros urbanos europeus e norte-americanos e as respostas racistas e policialescas dadas por personalidades públicas de países mais afetados, Cueto fala sobre as dificuldades do combate a epidemias dessa dimensão em países extremamente pobres. “A esperança desse periódico é que o estudo da história da saúde seja de utilidade para os encarregados na elaboração de políticas públicas e para os estudiosos de sistemas de saúde em todos os países, auxiliando-os no controle das doenças alimentadas pela pobreza”, disse na carta.