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Pesquisadores apresentam trabalhos sobre doenças e epidemias na história de diversos países

03 set/2010

Na quarta-feira (1/9) a abertura do IV Seminário sobre História das doenças reuniu especialistas para falar sobre “A história da poliomielite”, em mesa-redonda coordenada pela professora Diana Maul, da UFRJ. A pesquisadora da Casa, Dilene do Nascimento, apresentou o caso brasileiro, a partir dos anos 1970, quando a saúde pública ainda ficava em segundo plano mas a assistência médica expandia-se, no contexto do Programa Nacional de Desenvolvimento, instituído logo depois da inauguração do Ministério da Saúde, em 1971.

Sentados à mesa principal, Dilene Raimundo (COC), Verani (Ensp), Maul (UFRJ), Juan (Salamanca) e Batalha (historiador)

A partir da esquerda: Dilene do Nascimento (COC/Fiocruz), José Fernando
Verani (Ensp), Diana Maul (UFRJ), Juan Antonio Sanchez (Salamanca) e
Fábio Batalha (Cefet).
Foto: Roberto Jesus Oscar (COC)

 

Naquele ano houve a primeira tentativa de controlar a expansão da pólio, com o Programa Nacional de Controle da Poliomielite, que integrava o Programa Nacional de Imunizações. O Brasil vivia sob o mandato do quarto presidente militar, o general Ernesto Geisel, que inaugurou a abertura política depois de mais de uma década de ditadura no país.

Em 1979, eclodiu uma epidemia de pólio no sul do país, quando já eram conhecidas experiências bem sucedidas de imunização em outros países. O ministro da saúde Waldir Arcoverde tomou a iniciativa de combater decididamente a doença. Nos anos 1980, a vacinação em massa começou a ser efetuada em todo o território nacional e o último caso foi registrado em 1989, na Paraíba. Nesse período já eram realizados os primeiros testes do Sistema Único de Saúde (SUS), aprovado durante a votação da Constituinte de 1988.

O professor Juan Antonio Rodriguez Sanchez, de Salamanca, na Espanha, falou sobre “As responsabilidades sociais não assumidas”, entre 1954 e 1967, durante as tentativas de erradicação da doença em seu país: apenas em 2002 a Europa obteve o certificado de que havia excluído a doença do mapa.

Até 1958 não houve campanhas de vacinação na Espanha e apenas em 1963 a vacinação passou a ser gratuita. Antes disso, quem pudesse pagar imunizava-se. Entre 1958-63 há registro de 1300 mortes e 1400 sequelados — todas vítimas da pólio. As autoridades silenciavam sobre esses fatos e os serviços de saúde eram desorganizados durante o governo franquista. Com o fim da ditadura, os sanitaristas começaram a falar sobre saneamento e o combate à poliomielite.

Pesquisador do Departamento de Epidemiologia da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), José Fernando Verani fez uma exposição sobre sua experiência na campanha que visa erradicar a pólio no Paquistão. Na década de 1980, com o Plano de Ampliação da Imunização, 50% do país foi inteiramente alcançado e apenas 20% não coberto. Em 1990, com a intensificação da campanha, participou da implantação do Dia Nacional de Vacinação e do programa de vigilância contra a paralisia flácida aguda. Na década de 1990 foi intensificada a campanha rumo à erradicação. Segundo Verani, a estabilidade no momento é um prenúncio de que o fim da doença está chegando.

Fábio Batalha Monteiro de Barros, professor do Cefet do Rio de Janeiro, falou sobre “O papel da poliomielite na gênese da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação — ABBR”, acentuando que não há fronteiras de classes sociais para a doença e que por isso sempre houve um engajamento expressivo da alta sociedade nas ações e na gestão da sociedade filantrópica.

Fontes e informação para pesquisas históricas

Em sua apresentação no mesmo dia (1/9), na mesa redonda “Fontes e informação para os estudos das doenças”, a historiadora Beatriz Kushnir despertou a curiosidade de quem procura temas interessantes para pesquisa ao mostrar documentos existentes em sua instituição, o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.

Os documentos, que cobrem assuntos relacionados com a saúde, cobrem um amplo período, do século 19 à década de 1940. Vieram da Câmara de Vereadores, do Senado, da Prefeitura, além de outras instituições e revelam o funcionamento do cotidiano da cidade, desde o Brasil colônia até o período republicano. São textos, vídeos, fotografias, livros contendo atas das sessões, relatórios  dos prefeitos, avisos de governo.

Na temática da saúde há documentos da Inspetoria Geral e das juntas de higiene, do Império aos primeiros anos da República. Ela trouxe vários exemplos de imagens dos códices de assuntos relacionados com a saúde, como um de 1830, estabelecendo os princípios de atuação de médicos e parteiras.

Entre as atividades mais recentes de professora da UFRJ Diana Maul destaca-se a organização do arquivo geral da faculdade de medicina, que tem a guarda de documentos produzidos desde 1815, quando a faculdade ainda funcionava no Morro do Castelo. Depois, foi para a Santa Casa da Misericórdia e, de lá, para a Praia Vermelha, até ser transferida para a ilha do Fundão, na década de 1970.

Os documentos estão sendo tratados e nem todo o conjunto ainda foi organizado. “Já temos uma vitória, a de ter ‘interrompido o trabalho das traças’, argumenta a professora. São teses, diplomas de médicos, parteiras, livros de vestibular a partir de 1852, de títulos e nomeações de funcionários, diplomas, livros de ponto, de contratação e licenças de professores, avaliação de alunos — as encadernações temáticas reuniam documentos avulsos.

Há também a pinacoteca, com 239 quadros — retratos de diretores de 1826 até hoje —, medalhas, placas com a relação de nomes de professores e alunos que foram à Guerra do Paraguai. São documentos da medicina e dos outros centros de ciências da saúde — menos os da educação física e de enfermagem.

Paula Xavier, coordenadora do Serviço de Gestão da Informação da Casa de Oswaldo Cruz incluiu em sua apresentação imagens, textos e vídeos, mostrou como o aparato tecnológico ajuda na construção do conhecimento científico. “Articulação e diálogo” são palavras-chave no cotidiano dos profissionais que trabalham em nosso grupo. Ela falou do lugar de quem lida com as fontes e os fluxos de informação e conhecimento, cuidando para aprimorar tanto as rotinas que incluem o registro, a preservação e a circulação de informações, como as técnicas e métodos observados no cotidiano.

Reunir o conhecimento de forma organizada em bibliotecas virtuais e bases de dados, tendo como objetivo a produção de novos conhecimentos é o trabalho de Paula Xavier, que coordenou o grupo que elaborou o portal da COC na Internet e na intranet e integra equipe de profissionais que atualizam bases de dados e bibliotecas virtuais em saúde.

A Casa participa de uma rede de instituições que têm como meta o fortalecimento e a valorização da história e do patrimônio da saúde e reúne 16 países: os de língua portuguesa, os ibero-americanos e os árabes. Há uma série de bibliotecas virtuais temáticas,entre as quais destacam-se as biográficas dedicadas aos cientistas Adolfo Lutz, Carlos Chagas e Oswaldo Cruz.

Maria Teresa Villela Bandeira de Mello abordou a implantação do programa de gestão de documentos no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, e destacou a importância do mapeamento do conteúdo existente. São documentos variados, impressos, iconográficos e cartográficos.

Em sua exposição, Maria Teresa destacou quatro fundos: o da presidência da província do Rio, com 28 fotos de Marcos Ferrez, obtidas entre 1811 e 1889 e um breve histórico da província, entre 1834 e 1859. Os temas são escravos, finanças, plantas e mapas de obras, vias férreas, documentação sobre epidemias de cólera, sarampo, quarentena de imigrantes.

Outro fundo é o do presidente do estado, com documentos compreendendo o período de 1889 a 1937. Há mapas de vacinação contra a febre amarela em vários municípios, documentação sobre o saneamento do Hospício Nacional de Alienados, fotos como uma da Júpter Jazz Band, que acompanhava equipes de vacinação pelo interior. O terceiro fundo é o acervo do instituto Médico Legal, com a série vivos e a série mortos, cobrindo o período entre 1910-87. São 58 mil laudos médicos, com perícias, autópsias, exames de corpo de delito atestando estupros, gravidez, teses dos próprios médicos.

A assessoria de imprensa e divulgação, com 198 mil itens e adiantado estado de deterioração é o tema do outro fundo apresentado por Maria Teresa. Inicialmente a assessoria foi vinculada ao DIP, órgão de imprensa e propaganda no governo Getúlio Vargas e tem documentação sobre campanhas, assinaturas de convênios, eventos. Cobre um amplo período, englobando os governos de Carlos Lacerda, Negrão de Lima, Carlos Chagas, Faria Lima, Leonel Brizola, Moreira Franco, Nilo Batista e Marcelo Alencar. A documentação referente ao governo Rosinha-Garotinha foi eliminada.

 

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