As conferências de dois pesquisadores internacionais e o lançamento de um livro em homenagem ao médico, pesquisador e escritor José Reis (1907-2002) marcaram o seminário Desafios da Pesquisa em Divulgação Científica, realizado no último dia 6/8, no auditório do Museu da Vida, em Manguinhos (RJ). O evento contou com a participação dos convidados Bruce Lewenstein (Cornell University) e Eric Jensen (University of Warwick), além da neta do homenageado, Paula Reis.
Professor da Cornell University (EUA), Bruce Lewenstein apresentou-se por vídeo e debateu com o público presente via Skype. Em sua conferência sobre os desafios da pesquisa em comunicação científica, Lewenstein alertou os jovens pesquisadores sobre as múltiplas dimensões da divulgação científica e a necessidade de definir as suas perspectivas particulares de pesquisa. De acordo com o pesquisador, os cientistas têm muito a aprender com a comunicação para novos públicos. “A ciência ultrapassa os limites acadêmicos e não acontece apenas nos laboratórios. As pessoas se deparam com a ciência no dia a dia e a ciência pode ser sim um instrumento de cidadania”, explicou Bruce Lewenstein.
Presente no auditório do Museu da Vida, o pesquisador da University of Warwick (Reino Unido) Eric Jensen discutiu como os métodos quantitativos e qualitativos de pesquisa podem contribuir para o aperfeiçoamento da divulgação científica. “É importante ter um bom entendimento de seu público para obter um programa mais eficiente de comunicação científica. Temos que ter o comprometimento de aprimorar continuamente o trabalho”, disse Jensen. A partir do exemplo dos festivais de ciência no Reino Unido, o professor da University of Warwick também falou da dificuldade de alcançar e engajar novos públicos, sobretudo os mais jovens, em atividades da área. “Os eventos precisam testar novas estratégias para incluir e atrair pessoas que não têm ligação direta com as ciências”, afirmou Eric Jensen.
Homenagem a José Reis
O lançamento do livro José Reis: Reflexões sobre a divulgação científica foi o destaque da mesa que homenageou o médico, pesquisador e escritor falecido em 2002. Organizada pela coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Divulgação da Ciência da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia, Luisa Massarani, e pela chefe do Serviço de Biblioteca da COC, Eliane Dias, a obra reúne 16 textos de José Reis escritos entre 1954 e 1984.
“José Reis escreveu uma quantidade imensa de livros e artigos e foi um personagem fundamental da construção da ciência brasileira. A ideia desse livro foi reunir textos em que ele reflete sobre divulgação científica, abordando questões como jornalismo científico, feiras e museus de ciência”, detalhou Luisa Massarani. “Para mim, é uma emoção trabalhar com o acervo de José Reis, que nos foi doado pela família, após ter estado na Universidade de São Paulo (USP). A gente já tem uma dissertação sobre José Reis em nosso programa de pós-graduação, mas ainda há, relativamente, poucos trabalhos acadêmicos sobre a sua obra”, afirmou Luisa Massarani, que anunciou o lançamento, em breve, de um site com material digitalizado do seu acervo.
Considerado um pioneiro e ícone da divulgação científica, José Reis teve o seu acervo doado pela família à Casa de Oswaldo Cruz em 2015 e o material aos poucos vai sendo disponibilizado ao público. “É uma satisfação para a Casa de Oswaldo Cruz promover o trabalho de José Reis. A gente espera que o seu acervo sirva à pesquisa, à investigação, aos alunos dos nossos programas de pós-graduação e pesquisadores de outras instituições”, celebrou o diretor da COC, Paulo Elian.
De acordo com a chefe do Departamento de Arquivo e Documentação da COC, Aline Lacerda, o maior volume do acervo de José Reis é de livros, reunidos em cerca de 15 caixas de arquivos. “José Reis é um homem de livros. Nós acabamos de receber o material arquivístico proveniente de suas atividades. Os documentos de arquivo de José Reis chegaram até nós misturados nos livros. O nosso trabalho é dotar de racionalidade e significado esses conjuntos documentais”, comentou Aline. Chefe do Serviço de Biblioteca da COC, Eliane Dias revelou curiosidades sobre o acervo do escritor. “Cada vez que a gente abre uma caixa a gente encontra coisas incríveis. Nós estamos trabalhando agora para disponibilizar esse acervo on-line. É a nossa maior coleção. Com cerca de 12 mil livros”, complementou Eliane Dias.
Representando a família, a neta do escritor, Paula Reis, lembrou dos tempos de criança na biblioteca do avô e disse estar emocionada com mais uma homenagem realizada pela Fundação Oswaldo Cruz. “A biblioteca era o lugar preferido do meu avô. O lugar onde ele passava mais tempo, estudando, lendo, escrevendo. O fato de sua coleção de livros, seu grande tesouro, estar hoje na Casa de Oswaldo Cruz nos deixa muito honrados e satisfeitos. Através da divulgação do seu trabalho, nós tornamos o José Reis vivo de novo”, declarou Paula Reis.
O encontro no Museu da Vida, em Manguinhos (RJ), foi uma realização da Casa de Oswaldo Cruz, da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz e do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia.